quarta-feira, 20 de maio de 2020

ROTINA - NUNCA MAIS!

 Exceto o ato de levantar e deitar, e os hábitos e costumes necessários para um bom viver (escovar dentes, tomar banho, me alimentar etc...) não me lembro de ter uma vida rotineira, tipo fazer todos os dia as mesmas coisas. Não, não me lembro... rotina, definitivamente, não faz parte do meu cotidiano!
A vida me surpreende com coisas novas, novos aprendizados todos os dias. E isso é uma delícia!
Coisas simples, é bem verdade, mas, aos meus olhos, dádivas de DEUS. 
Na minha vida, como costumo brincar, cada mergulho é um flash! Para cada flash, um insigth,  e, para cada um desses, certamente acesso conhecimentos que já estavam la embaixo, na zona de sustentação do iceberg, muito abaixo do nível do mar, aquela zona oculta do inconsciente, que submerge para além da superfície, onde ficam armazenados saberes, soluções, ideias, que a gente nem imagina - algo como criatividade! 
Então, se já não havia rotina, como falar em voltar a ela, nesses tempos tão estranhos, quando um patógeno invisível de nome corona vírus, ou SARS-COV2 como imponentemente o chamam os cientistas - que por sua vez provoca uma Síndrome respiratória grave chamada de COVID-19 (Corona Vírus Desease 2019) - anda às soltas, botando terror na humanidade nos fazendo pensar, repensar e mudar os mais automáticos e rotineiros hábitos?
E, por que, estou eu aqui falando disso? 
Simplesmente para lhes contar que ontem me vi diante de uma escolha que, até bem pouco tempo,
em tempos normais como ouso chamar, seria corriqueira, e até meio "besta" de se falar.
Mas... estamos em outros tempos, então, ao acordar, ainda deitada, começo a programar  meu dia nada rotineiro, diga se de passagem, apesar do isolamento social. Resolvo, nessa programação, tentar restabelecer um pouco daquilo que poderia ser uma rotina ou um hábito da minha vida normal - fazer minha caminhada  matinal.
Como nada nesses tempos é normal... com o dia previamente programado, bem cedinho, começo a me preparar para iniciar a jornada quando ouço um carro de som passando pelas ruas propagando...
-- Senhores moradores, a Secretaria de Saúde do Município solicita a todos que NÃO saiam de suas casas, exceto em caso de extrema necessidade... Ao sair, atentem para a obrigatoriedade do uso de máscaras e... dai desfia as regras e protocolos de higiene para a prevenção???? se é que isso é possível,  da contaminação com o tal de vírus!
Ouvir isso me deixou abalada e literalmente perplexa diante da necessidade de fazer uma escolha de algo que antes me parecia tão simples - sair para caminhar! Era um hábito,  fazia-se sem mais delongas e ponto!
E eu, que sempre fui ágil, e,  na maioria das vezes assertiva em minhas decisões, eu que no geral não temo ao fazer minhas escolhas, me vi numa situação difícil!
Putz ... pensei - e agora, o que faço? Vou ou não vou?
Quando - pensei ainda - em minha vida, até uns sessenta dias atrás, poderia sequer sonhar em me deparar com uma escolha tão difícil para um ato tão simples e corriqueiro? Quando? Jamais...
Deus! Uma simples caminhada pode colocar em risco minha saúde e, mais ainda, a dos meus pais e irmão que moram comigo e de mais um outro tanto de gente!
Um choque - uma escolha. Ir ou não ir, eis a complexa questão. Mais complexa, pelo menos neste momento, do que a questão existencial de Shakespeare em Hamlet com seu To be or not to be that´s the question  ." 
Confesso que foi uma escolha difícil! Coração acelerou, bateu forte. Recorro a Descartes - "penso, logo existo", existo e estou confinada há mais de sessenta dias em casa, existo e preciso continuar a existir, e, para existir, preciso me manter sã. 
Recorro a DEUS, acredito que sou uma centelha divina, creio que Deus habita mim, tenho muita FÉ... recorro ao meu coração, escolho pela sanidade mental!
Caminhar me dá VIDA, me dá ideias, minha mente viaja e consigo criar infinitas coisas... caminhar me faz bem, muito bem... então...
#Fui fazer minha caminhada matinal!
Foi bom, fiquei feliz... 
E, está tudo certo! 


terça-feira, 19 de maio de 2020

OBSERVATÓRIO


De repente, estou aqui, curtindo minha quarentena e ouço ao longe o ronco de um avião cortando os céus! Estou em um lugar que é rota deles... apesar de esses dias, os vôos terem diminuído bastante, ainda os ouço de quando em vez! Senti, lá no fundinho da minha alma inquieta uma saudades de ver o mundo do alto, uma vontade de voar, de sair um pouco do casulo! Afinal, são mais de sessenta dias incubada, e, só Deus sabe até quando vai isso. Essas saudade e outras coisas me levaram a viajar em pensamento!E, não sei bem por que cargas d´água - dizem que nada acontece por acaso - meu pensamento viaja para um dia qualquer, quando , estava eu na sala de espera do Aeroporto de Congonhas, esperando meu voo, e, como não poderia deixar de ser, observadora que sou, observando o vai e vem das pessoas. Observar pessoas e seus comportamentos é uma das coisas que gosto de fazer, principalmente quando estou nesses lugares - geralmente, esperando! Essa espera me dá a oportunidade de "n" aprendizados. Mas, voltando ao pensamento que - consciente ou inconscientemente - viajou para aquele dia, lá na sala de espera, me recordei nitidamente da cena que vi. Sentada em um dos bancos que ficava à direita de onde eu me sentava, observei uma bela moça, bem arrumada, elegante e discreta que, a meu ver também estava a observar. Me chamou a atenção, sei jeito de revirar os olhos, e, foi então que percebi que ela também observava - não o movimento - mas, sim, estava a olhar para um também bonito e elegante rapaz que estava sentado no lado oposto, bem à sua frente.Fiquei algum tempo mergulhada naquela cena e nos movimentos de olhos de ambos. O rapaz, por sua vez - percebi - meio de canto de olhos em principio, e, depois mais atrevidamente, também a olhava. Permaneci discretamente atenta à essa cena por um bom tempo, e assim, também permaneceram os dois - um olhava para o outro, o outro olhava para o um, olhares se encontravam, enquanto a voz daquela moça de aeroporto anunciava:
Companhia tal, voo tal, com destino a tal lugar - embarque imediato pelo Portão 4!
E, por ai, seguiam as coisas, as falas, os olhares... a moça falava e a troca de olhares continuava, e, nada acontecia.
Até que, de repente, em um determinado momento, a voz gutural da moça do aeroporto anuncia solenemente:
Atenção Srs. passageiros da Companhia A, voo nª 000, com destino a qualquer lugar que não me lembro - seu embarque será imediato pelo Portão X!
A moça bonita se levanta, pega lentamente suas bagagens de mão... lança um último olhar para o moço - e - se vai!
End!
E, eu, no observatório.

E, o aeroporto, assim - vazio.