sábado, 14 de abril de 2012

Anel de Tucum - Os Princípios!

Foi assim...

Aconteceu numa madrugada qualquer, de uma Semana Santa qualquer, que bem poderia ser março de 2008 (e era), num quiosque de lanche qualquer, que bem poderia ser o Skinão, lá no Porto Seguro (e era )...
Num tempo sem tempo, onde o que menos importava era o tempo! Não se sabia se fazia frio ou calor... não se sentia! Ele tomava uma água com bolinhas e eu o acompanhava...
Assim... encantados, mergulhados um no olhar do outro - nos re-conhecendo e algo re-nascendo.
Eu o olhava totalmente absorta, esquecida do mundo à minha volta me perdia na fala dele, e ele, enquanto falava girava com os dedos da mão esquerda algo que parecia um anel  que estava no dedo anular da mão direita - movimento este que descobri  depois, lhe era peculiar .
E estavámos assim perdidos no olhar, nos movimentos dos lábios, na voz e na fala um do outro, sorvendo lentamente cada palavra, cada gesto, espreitando, perscrutando os seres que havíamos nos transfomado, alheios a tudo o que não fosse nós mesmos. E o anel girando no dedo, para lá e para cá...para cá e para lá!
Então... ele fixa em mim aquele olhar de esmeralda diluída com uma leve poeira de ouro no fundo, com um brilho de estrela que me atravessa a alma e até hoje me faz sentir frio na barriga e calor no coração e num movimento súbito, sem mais nem porquê tira do dedo a argola marrom que parece madeira em forma de anel, entrega nas minhas mãos e pergunta...
__ Você sabe o que é isso?
__ Me parece um anel, respondo num murmúrio quase inaudível.
__ É mais do que isso, é um ANEL DE TUCUM. E começa a me explicar o significado do anel.
Enquanto ele explica, seguro o anel entre os dedos, giro-o para lá e para cá, olho, experimento - quase cabe em dois dos meus dedos- brinco e rio de mim...
E a explicação prossegue... diz que significa a preservação dos princípios, que os escravos o confeccionavam com um tipo de coco e presenteavam suas companheiras como símbolo da aliança, da libertação, da preservação dos seus principios e depois seu uso foi ampliado para outras coisas etc... Me conta que resolveu usá-lo já há algum tempo para lembrar sempre de preservar seus principios, não deixar que eles se perdessem diante das mazelas da vida!
Cravo meus olhos que "mudam de cor" nos movimentos daquela boca me oferecendo explicações e fico admirada com o homem que ele se transformou.
Desde então me re-apaixonei!
Estendo a mão para devolver a ele a preciosa aliança e... me surpreendo com o gesto e a fala!
__ É seu - ele me diz!
__ Como??? Pergunto boquiaberta!
__ Sim, é isso mesmo. Ele é seu! -  Enfatiza
__ Mas... ele é importante para você... ! Digo relutante!
__ Aceite-o é para você!
__ Mas... não me serve... Tentei!
__ Use-o como quiser. Mas é seu...ninguém melhor do que você para ter esse anel - ele reforça!
__ Obrigada! aceitei.
Assim...nos tornamos guardiões dos nossos princípios.
Descobri que foi ali... naquele momento que o amei de novo!
Era uma Páscoa feliz e aquele foi o simbolo e o marco da libertação... o amor renasceu, ressurgiu, ressuscitou!





E, desde então, passei a usá-lo...
E desde então... re-amei..
E desde então renovei o AMOR!
No ANEL DE TUCUM!


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ANEL DE TUCUM

Eram diversos e variados rituais para celebrar uma aliança. Os mais simples eram: apertar a mão um do outro, dar um presente, trocar de veste ou de armas. Os mais profundos eram: beber ou misturar o sangue um ao outro, ou imergir a mão numa bacia de sangue; às vezes cortavam-se animais sacrificados e passava-se entre eles (cf Gen 15-17; Jer 38, 18).
Conforme a tradição bíblica, Deus vcelebrou várias alianças com seu povo ao longo da história, culminando na pessoa de Jesus de Nazaré. Desde então os seguidores passaram a falar em antiga e nova aliança. Assim como a antiga aliança foi constituida pelo sange dos animais sacrificados (Ex 24,8), a nova aliança foi constituida pelo sangue de Jesus Cristo(Heb 9,11; 10,1-18).
Acompanhando essa tradição, na época do império, quando o ouro era usado nos anéis dos opressores, negros e índios, não tendo ouro, cultivaram o ANEL DE TUCUM como símbolo de pacto matrimonial, símbolo de amizade entre si e também como resistência na luta por libertação. Era símbolo clandestino, cujo significado somente eles sabiam. O anel de tucum era usado para agregar os oprimidos. Com isso renasce o simbolismo da ALIANÇA no ANEL de TUCUM, extraído de uma palmeira da Amazônia, cheia de espinhos, o símbolo do compromisso e da aliança com as causas dos oprimidos, exluiídos e marginalizados - e suas lutas por libertação.
Foi na década de 70 que o Conselho Indigenista Missionário adotou o Anel de Tucum, hoje usado no mundo inteiro por quem assume a luta pelas causas populares, misturando-se com a sorte dos pobres da terra.
Esse símbolo foi bem escolhido, pois assim como é penoso fazer o anel de tucum, também é árdua a luta por dignidade, vida, esperança e paz.

::: Não construa muros em seu coração:::





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