domingo, 22 de abril de 2012

Fragmentos de Mário Quintana!

 EU E QUINTANA...




...amor a primeira vista e a perder de vista! Me lembro de uma vez, quando estive em Porto Alegre e tive a oportunidade de tomar um chocolate quente na lanchonete do Centro Cultural Mário Quintana, bem lá em cima, vendo o sol se por sobre o Rio Guaiba.
Tudo é muito lindo e entendi que as almas privilegiadas, conseguem transformar beleza em palavras e podem brincar com elas. Lá o poeta fazia suas incertas e escrevia coisas tão certas! Como:

SENTIR PRIMEIRO

Sentir primeiro, pensar depois,
Perdoar primeiro, julgar depois,
Amar primeiro, educar depois,
Alimentar primeiro, cantar depois.
                                      
Possuir primeiro,       
 contemplar depois.                                                     
Agir primeiro, julgar depois                                          
Navegar primeiro, aportar depois,                                  
Viver primeiro, morrer depois.                                        


Registro aqui alguns trechinhos de poemas, ou mesmo poemas inteiros - aqueles que mais me tocaram - por isso denominados Fragmentos do Livro "80 anos de poesia". Maravilhas de Mario Quntana.
A RUA DOS CATAVENTOS

Da primeira vez que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha,
E hoje, dos meus cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada
 Arde um toco de vela amarelada...
Como o único bem que me ficou!
           (estrofes I e II p.35)

... vão parar nos anéis de saturno, são eles que formam, eternamente girando, os estranhos anéis desse planeta misterioso e amigo.(p.67)

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CARRETO
 Amar é mudar a alma de casa. (p.67)
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... "Colhe o momento que passa. Colhi-o, atarantado... Era um não sei o que..."
(p.76)

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           MENTIRA?
 A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer. (p.83)

PARA MOISÉS VELHINHO (p.37)
Minha morte nasceu quando nasci
Despertou, balbuciou, cresceu comigo,
E dançamos de roda ao luar amigo,
Na pequenina rua em que vivi.

Já não tem mais aquele jeito antigo
De rir e que, ai de mim, também perdi!
Mais ainda agora a estou sentindo aqui,
Grave e boa a escutar o que lhe digo.

E as horas lá se vão loucas ou tristes...
Mas é tão bom, em meio às horas todas,
Pensar em ti, saber que tu existes!

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ESPELHO MÁGICO             
Das Utopias:                         

"Se as coisas são intangíveis...ora!
Não é motivo para não quere-las... 
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas...
(p.94)
DAS IDEIAS                        
Qualquer coisa que te agrade,    
Por isso mesmo...é tua             
O autor nada mais faz do que vestir a verdade
Que dentro em ti se achava inteiramente NUA! (p.96)
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DA DISCRIÇÃO
Não te abras com teu amigo
Que ele outro amigo tem
E o amigo do teu amigo
Possui amigos também... (p.97)
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EPÍLOGO
Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma.
Tudo agora está suspenso.
Nada aguenta nada.
E sabe DEUS o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas.
Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca...
Outras vezes, senta uma mosca e desaba uma cidade. (p.77)
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O CHALÉ DA PRAÇA XV
O chalé fazia parte da gente. Me lembro do Bilu, com seu perfil perpendicular de cegonha sábia, o longo bico mergulhado - não no garfo do gomil da fábula, não propriamente no canecão de chopp, que era de fato o que estava acontecendo - mas no POÇO ARTESIANO DE SI MESMO (p.120).
... o rio da harmonia confusão das almas ?  Agora era apenas o rio do tempo que passou.
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PARADA KM 77
... até onde irá a procissão dos postes, unidos pelos fios, à mesma solidão? (p.120)

VERSO AVULSO
Senhor! Que buscas tu pescar com a rede das estrelas? (p.121)

IMAGINAÇÃO
... A imaginação é a memória que enlouqueceu!

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BAÚ DOS ESPANTOS

CONVITE
"Basta de poemas para depois... Ó vida, e se nós dois vivessemos juntos? (p.184)

TEMPO PERDIDO
Havia um tempo de cadeiras na calçada,
Era um tempo em que havia mais estrelas.
Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua
E o cachorro da casa era um grande personagem
E também o relógio de parede.
Ele não media o tempo: ele meditava o TEMPO. (p.125)

O TEMPO
"O tempo é a insônia da eternidade... (p.134)

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O PEQUENO POEMA DIDÁTICO
Todos os poemas são um mesmo poema,
Todos os porres são o mesmo porre,
Não é de uma vez que se morre.
Todas as horas são extremas! (p.168)
QUINTANA, Mário. 80 anos de poesia. Tania Franco Cavalhau (org.). São Paulo: Ed. Globo, 2008. 






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