sexta-feira, 3 de junho de 2011

Tecendo a VIDA!

Bom agora que já lhes contei que sou artesã, vou contar mais um pouco sobre o que esta habilidade me proporciona!
Gosto de tecer fios, fios diversos, fios que compro, fios que desenvolvo. Para mim, tecer é mais do que um trabalho manual, é uma arte, são momentos de reflexão profunda, quando vou ao âmago do meu ser e trago o que há de melhor em mim na arte de tecer a vida!
Quando estou tecendo me sinto desfrutando momentos de muita paz, momentos gostosos, e também momentos de organizar os pensares e buscar suavidade, paz e a tranquilidade necessárias para seguir nesta jornada. 
Nestes momentos me entrego totalmente e reflito sobre todas as coisas que aconteceram e estão acontecendo na minha vida e a comparo com as linhas que uso para tecer. Ao bater os olhos em um fio, sei quando ele dará um bom trabalho. Sei também que este trabalho dependerá da habilidade do artesão que o tiver nas mãos. Existem  trabalhos que são tecidos com mais de um fio - fios diferentes na textura, no brilho, na intensidade, mas ainda assim, quando juntos resultam em trabalhos maravilhosos. Assim é a convivência, assim são os relacionamentos.
Ao iniciar um trabalho, começo o novelo de dentro para fora! Ao ver isso as pessoas costumam me dizer:
 - Nossa, trabalhar o novelo de dentro para fora é muito mais difícil! Com certeza é, mas, embora seja mais difícil, o trabalho fica sempre mais bonito e perfeito. De dentro para fora a linha desliza melhor, mas também embaraça e dá nós com mais facilidade! E quando os nós acontecem, no primeiro momento fico nervosa, me irrito, porém... paro, respiro fundo, penso e sei que só com muita pazciência, carinho e cuidado conseguirei desfazer os nós sem comprometer o trabalho!
Às vezes, preciso parar deixar de lado o trabalho, pensar em como fazer, refletir, buscar as melhores formas de desfazer os embaraços e só então voltar. Também converso com os fios, e digo a eles:
- Olha vocês são muito importantes nesta construção, amo vocês, e nosso trabalho só ficará bom se conseguirmos desfazer esses nós sem deixar marcas. Às vezes conseguimos, outras não totalmente - ficam alguns pontinhos, quase imperceptíveis, que só nós (eu e os fios) sabemos, mas quando olhamos o todo, entendemos que aqueles pontinhos fizeram parte de uma construção maior e que ficou bonita. Os nós passam a não ter significado, diante da amplitude do todo. Assim deveria ser a vida...
Todo este trabalho é feito com muita “confiança”. Nós  (1ª pessoa do plural), eu, fios, agulhas, e todas as variáveis dessa construção  e também aquilo que vem do fundo do meu ser para compor a  criação nos entregamos uns aos outros para construirmos uma obra de ARTE!

Essas reflexões me remetem a algumas analogias: 
Comparo tudo isso com vida... somos eu e aqueles que amo fios diferentes( bonitos, iluminados, com luz própria e com a profundeza das circunstâncias que nos constituí) que foram juntados em determinado momento por escolha da vida – DEUS - para tecer uma obra de arte! Mas que em alguns momentos, podemos (seguindo o que é natural em todas as relações humanas) tropeçar nos embaraços.
A vida porém é sábia e sempre desenrola seus novelos de dentro para fora! Ela sabe que surgirão embaraços e que é preciso ter paz&ciência, sabedoria, cuidado, zelo, carinho para desfazê-los! E, às vezes, é preciso parar, pensar em como fazer, refletir, buscar as melhores formas de desfazer os embaraços e só então retomar o enlace.
Procuro, na minha vida e nas minhas relações, sejam elas quais forem: familiares, de amizade, de amor, profissionais, fazer isso, parar quando as circunstâncias exigem, quando acontecem coisas e o fio fica muito embaraçado.
E ai, procuro sempre estabelecer relações de confiança, procuro também esclarecer as coisas, desembaraçar os fios para permitir que a vida siga o seu trabalho e teça nossos caminhos com o mínimo de nós possíveis e que esses nós sejam tão imperceptíveis que não nos incomodem.
E, reforçando a sabedoria da vida, ou a vontade do criador para nossa vida - seja qual for o caminho que ela pretenda nos levar, já que nada é decisivo ou definitivo, ela estará tecendo nossos fios seguindo o tom, as cores, as texturas que dermos a ela. Acredito  ainda que esses fios são tecidos por uma força maior e fazem a trama que definirmos e isso certamente se baseia em nossas atitudes.
Assim  se tecermos com muita habilidade e com o melhor de nós aquilo que nos é importante – as relações -  determinaremos a beleza desta trama.
Essa é a nossa responsabilidade para conosco e para com aqueles que nos são caros, e esse trabalho é uma eterna construção... é para isso que estamos aqui!
Tecendo a vida....

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