domingo, 20 de maio de 2012

A Alquimista.



Delícia é poder desfrutar de um final de semana interinho em casa, depois de duas semanas literalmente árduas e com certeza a que virá não vai ser diferente.
Uma pausa entre uma semana e outra, realmente é uma delícia e ficar em casa… tudo de bom!
Diferente do ambiente corporativo, onde predomina a cultura da urgência em que temos de ser “legos” e nos desdobrar em várias peças, separar tudo… braços para cá, pernas para lá, deslocar a cabeça do lugar para depois montar tudo de novo por causa da fragmentação da demanda, aqui na minha casa posso me dar ao luxo de ficar inteira.
Aqui em casa, a subjetividade humana, a automatização do padrão de tempo que está acima das condições humanas e além da nossa capacidade de atender a tudo e a todos não existe. Aqui a cultura da urgência não existe, quem faz o tempo sou EU… neste pequeno período sou dona dos dias e das horas. O tempo é  aquele que eu determino, faço o que quero, na hora que dá vontade. Aqui neste tempo apenas se respeita o dia e a noite, sem hora…ora, sem relógio, o tempo aqui é atemporal. Aqui neste tempo sem tempo, predomina transcendência em detrimento da imanência para aonde caminha a sociedade atual!
Na casa minha… sou imperatriz dos meus dominios! Como somos magos das nossas vidas, podemos fazer essas escolhas, podemos determinar o que fazer ou não fazer com nossas poucas horas livres… se ouvir musica, ler, pensar, cozinhar… rir, conversar ou ainda fazer tudo isso junto, dedicando esse tempo a nós mesmos.
Faço tudo junto… levanto e escolho fazer tudo! Ficar bonita, ser feliz, ouvir música, pensar, cozinhar e conversar com Tânia.
Começo ouvindo Ana Carolina. Ao tempo em que ouço as músicas vou fazendo conjecturas, pensando nas coisas que gostaria de fazer se pudesse… e com certeza se pudesse faria tempo para as tais coisas. Coisas como pegar um avião e ir longe para conversar com alguém especial, já que sinto tanta saudade dos sonhos e delírios, mas dai ouço…
Não vou pedir a porta aberta
É como olhar para trás
Não vou mentir
Nem tudo que falei eu sou capaz
Não vou roubar seu tempo
Eu já roubei demais...
Lembro que não posso, o coração aperta, daí me recolho e volto, afinal, não se trata apenas do tempo. Existem outras variáveis que me impedem e essas são totalmente alheias à minha vontade. Volto o pensamento para o cardápio do dia. Fiquei a semana toda fora, não fui às compras e preciso me virar com o que tenho disponível, essa é uma habilidade que aprendi com minha mãe. Dou uma incerta pela geladeira e logo fica tudo certo. Cardápio idealizado e executado conforme planejado.
Organizo o cardápio enquanto me entrego à sensação de “poder” que nos dá o ato de preparar uma refeição que terá como objetivo principal alimentar alguém. É um ato de responsabilidade e está diretamente ligado à preservação, à sobrevivência, à manutenção da espécie.
Penso sobre cozinhar. Fiz isso tão pouco ao longo da vida. Meu prazer pela culinária aflorou e se desenvolveu quando tive de ficar só e decidi preparar minhas refeições pelo menos aos finais de semana, já que não posso fazê-las todos os dias.
Sinto que o ritual de preparo de alimentos é a sabedoria alquimica de transformação e de AMOR!
Esse ritual me encanta… e apesar da pouca experiência, tenho a sensação que já fiz isso de formas diversas, durante toda a minha vida. Montar receitas, organizar utensílios, preparar os pratos, enfim… já fiz isso com certeza, em algum tempo que não sei qual! As imagens me remetem a um movimento absolutamente alquímico. É alquimia pura… é a capacidade de transformação!
Alquimia em latim “Solve et coagula” que significa dissolver e coagular. E do arábe “AL KYMIA” que pode ter dois significados: pedra filosofal e química e em algum contexto pode ser interpretada como “quimica espiritual”.
O alquimista busca a transformação do chumbo em ouro, por meio do processo de fundição.  Ao trabalhar neste processo ele está também trabalhando suas realidades internas, transmutando, transcendendo, buscando a transformação da vida, da consciência, da alma. Essa é a minha sensação quando estou preparando os alimentos. É como se tudo dentro de mim entrasse num processo de organização interna, de preparação para a vida e principalmente o contato direto com as minhas almas…como disse Vera Faria Leal em seu livro O poder do amor:
“Ao destilar líquidos, fundir materiais, aquecer substâncias para obter ouro - , se produz sincronizadamente no alquimista uma extraordinária modificação interna, que culmina em sua transmutação. Ele próprio se torna uma pedra filosofal, alguém cujo interior brilha e reluz como ouro. Assim, une seu coração a Deus e o transforma numa centelha reluzente do amor divino”. (LEAL, Vera Faria.  p . 280).
Enquanto o pensamento dá todas essas voltas pelo mundo mistico, filosófico, alquimico, passa pelos sentires, pensa na alma gêmea, devolteia e volta … ao som de VAMBORA com Adriana Calcanhoto.

Entre por essa porta agora,
Diga que me adora
Você tem meia hora
Pra mudar a minha vida,
Vem, vambora
O que você demora
È o que o tempo leva…
A letra que lembra “o sonho”, pode ser ainda um processo alquímico de fusão, de transmutação que já passou por quase todas as fases, e, que dentro de mim já se transformou na centelha reluzente do AMOR!
E que num tempo sem tempo, se recolheu e se posicionou em modo espera… por que o que se demora é o que o tempo leva!
Deixando de lado a “cultura da urgência”, de nunca se ter tempo para a VIDA, de se estar sempre ocupados para nós mesmos… de falar sempre apressado… que tal criar um tempo, que tal fazer o próprio tempo… ainda que seja apenas um fim de semana, um feriado? Que tal cultivar essa jóia rara, preciosa a  alquimia do AMOR?

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